Gamer Files

Unir ação e medo já era comum nos cinemas desde o meio da década de 70. No universo dos games, essa febre só se originou no meio da década de 90, quando numa atitude ousada, mas extremamente competente, a Capcom lançou Resident Evil que criou o gênero horror de sobrevivência servindo de inspiração para dezenas de cópias que sairiam nos anos seguintes. Uma dessas cópias foi Deep Fear, lançado pela Sega para o Saturn no fim de 1997. Mesmo com um desenvolvimento sem muito alarde, e até mesmo obscuro, o game conseguiu na época de seu lançamento unir elementos já existentes (a maioria vindos da série RE) com pequenas inovações. Somando a isso um dos melhores visuais em três dimensões do Saturn e um intrigante roteiro, temos um dos games mais interessantes e surpreendentes do console da Sega.

Enredo nada convencional

Se Resident Evil tinha um enredo que não tinha medo nenhum de ser clone dos mais audaciosos filmes de Terror B de Hollywood, Deep Fear procurava apresentar algo novo em sua história e que acabou se tornando muito mais assustador que seu predecessor. O game começa com estranhos fatos a bordo do submarino SeaFox. Pessoas agindo de forma insana e mortes sangrentas compõem o panorama. Por fim o submarino acaba adernando. Assustada a

marinha manda a equipe Seal, que se encontra numa estação submarina, para avaliar o que está acontecendo no submarino.

O jogador vai encarnar o personagem John Mayor, integrante do grupo Seal e que não faz a menor idéia do problema que está ocorrendo. . O protagonista da história é uma pessoa responsável e solidária que, apesar de calma às vezes, é identificado como uma pessoa muito inconstante. Ao chegar, Mayor tem um susto tremendo ao ver que o local está inva

dido por criaturas mutantes, que parecem não ser desse planeta... Para tentar entender melhor os acontecimentos, John tem que conversar com os membros de sua equipe e tomar muito cuidado: nem sempre quem parece ser amigo, o realmente é.

Todo o ambiente do jogo se passa numa base submarina e uma das maiores adversidades está no oxigênio, que sempre estará se esgotando em cada sala (fruto de uma sabotagem no sistema de ar da base). Há um ar do filme “O enigma do abismo”. O jogador terá sempre que procurar o air system para recarregar as salas ou jogar garrafas de ar. O submarino é gigantesco, com locais extremamente de difícil acesso, muitos deles inclusive inundados. Itens como chaves, disquetes, cartões de segurança e números são imprescindíveis para ter sucesso no jogo. É aquela velha forma de Resident Evil: é sempre bom olhar com cuidado todos os elementos numa sala, pois as pistas podem estar mais perto do que se imagina.

Visual e som acima da média

Basta ver os primeiros momentos do game em movimento para entender e não ter mais dúvidas: Deep Fear é um dos games com melhor visual do Saturn em toda a sua história. Além dos vídeos em FMV que ilustram toda a jornada, existem momentos em que cutscenes evidenciam os principais acontecimentos. O modelo poligonal dos personagens pode parecer antiquado para os dias de hoje, e realmente é, mas para a época estava em um nível excelente. Os cenários todos não renderizados, são maravilhosamente construídos apesar de possuírem poucos detalhes interativos. A movimentação infelizmente é pouco realista, inclusive influenciando na já problemática jogabilidade.

A trilha sonora é de autoria do compositor Kenji Kawai, o mesmo responsável pelo anime "Ghost in the Shell". Apesar do jogo na maioria do tempo fazer uso apenas dos efeitos sonoros, muito bons por sinal, quando a música aparece, ela cria um clima perfeito. Há composições bem sinistras, de tensão e algumas até emotivas. Os efeitos sonoros estão ótimos e bem variados, sendo possível ouvir sons de passagem de ar, de motores funcionando, de água, de abrir e fechar portas e trancas. O som das criaturas também é apavorante. Elas emitem um ruído semelhante ao de uma respiração ofegante e muitas vezes esse barulho será o único

indicativo da presença delas no cenário. Os únicos efeitos sonoros que vão decepcionar são os dos tiros, muito simples e incompatíveis com as armas.

Problemas na jogabilidade

Os controles de Deep Fear são extremamente imprecisos na maioria das vezes. O esquema de derrotar os inimigos com tiros e mais tiros, não traz nada de novo deixando em alguns momentos o game muito monótono. Já os controles são fáceis e simples de serem executados: O botão A abre portas e atira (o botão C também), o botão B serve para correr, o R saca e guarda a arma, o Z joga latas (podem ser de ar, de explosivos ou de flashes) e o start abre o menu. A principal dificuldade vai ser na hora de acertar as criaturas! Para compensar isso há uma opção que habilita o botão L para mirar diretamente nos alvos, basta ir no options

do jogo. Mas ainda sim alguns jogadores vão sentir certa dificuldade.

Os itens do jogo possuem descrições em japonês, mas é possível saber o que fazem com um simples uso. As latas possuem tarjas que as identificam, sendo azul as de oxigênio, laranja as de explosivo e as com inscrição STUN cegam momentaneamente as criaturas. Os itens para recarga de energia são pequenos frascos com cor azul, laranja e vermelho, em ordem de crescente de recuperação de energia. Demais itens são usados em momentos certos do jogo. As armas precisam ser recarregadas em terminais próprios e o jogador contará co

m pistola, metralhadora, lança-arpão e escopeta.

Game inesquecível, mas com falhas

Apesar dos pequenos defeitos, que incluem uma movimentação pouco realista e uma jogabilidade repetitiva, Deep Fear consegue cativar o jogador com seu enredo não convencional e bom visual. É um game interessante, e que poderia tranquilamente ganhar uma continuação. Infelizmente a Sega está mais interessada em fazer remakes de games toscos ou de estragar ainda mais a franquia Sonic.