Gamer Files

Você é o que você joga!

Estamos estreando uma nova seção no blog. Ela mostrará os games que eram para ser grandes sucessos, mas que devido a um desenvolvimento falho e problemas técnicos acabaram se tornando enorme decepções. E para essa estréia nada mais decepcionante que Enter the Matrix lançado em 2003 para Playstation 2, X-box e GameCube. Vamos lá!

Matrix revolucionou o cinema de uma forma como poucas vezes se viu e tornou os irmãos Larry e Andy Wachowski verdadeiras celebridades. Matrix conseguiu unir diversão e reflexão em meio a centenas de filmes bobos e comédias ridiculamente executadas. Quando os irmãos Wachowski anunciaram as duas continuações do sucesso (Matrix Reloaded e Matrix Revolutions) os fãs entraram em êxtase. Êxtase que foi aumentado quando eles também escreveram um roteiro a parte para ser usado no desenvolvimento de um game. Com os direitos na mão da Shiny, durante todo o seu desenvolvimento o game foi ganhando ares de superprojeto. Era capa das principais revistas do gênero e isso inclui a EGM americana, a Game Informer, a GamePro. E tudo parecia caminhar para termos um dos mais grandiosos títulos de ação de todos os tempos. Mas a decepção foi grande quando ele saiu em 2003.

Tentativa de unir games e cinema

Em EtM você não irá controlar Neo, Trinitry ou Morpheus e sim Niobe e Ghost. No filme "Reloaded", os dois personagens tem pouca participação (Ghost quase nem aparece), mas no game eles mostram que são os protagonistas. A história do game continua onde o primeiro filme terminou. Zion (a última cidade livre do controle da Matrix) está sob grande perigo, e todos estão correndo contra o tempo para salvar a cidade e o que resta da humanidade. Enquanto no filme curtimos as aventuras de Neo, Trinity e Morpheus, aqui vemos Ghost e Niobe lutando ao lado da equipe de Neo paralelamente, mostrando um outro lado da mesma história.

Para você ter uma idéia das ligações que Enter the Matrix tem com trilogia Matrix, confira a primeira missão: no pacote Animatrix,, o curta "O Vôo Final de Osiris" mostra os tripulantes da nave Osiris se deparando com um gigantesco exército de sentinelas seguindo em direção a Zion. Eles enviam um de seus membros, Jue, para a Matrix. Ela deixa um pacote com uma mensagem de aviso aos rebeldes. Em EtM, Niobe ou Ghost devem recuperar este pacote antes que sejam pegos pelos agentes. O conteúdo do pacote é mostrado em Matrix Reloaded. É uma perfeita convergência das mídias numa história até legal, mas muito pouco explorada até mesmo para um game.

Quando a pressa é inimiga da perfeição...

Enter the Matrix foi lançado no dia 15 de maio de 2003, exatamente o mesmo dia da estréia mundial de Matrix Reloaded nos cinemas. E infelizmente o desenvolvimento não acompanhou o prazo que a produtora tinha para o lançamento. Resultado: um game cheio de imperfeições, bugs e completamente inacabado chegou às lojas naquele dia. A pressa infelizmente é cada vez mais uma das causas mais sérias do fraco desempenho dos games baseados me filmes. Claro que em raras exceções isso não ocorre, mas no geral esse é o principal motivo de vermos tantos games inacabados chegando às lojas.

Visualmente, Enter the Matrix prometia muito. O falatório era que o mesmo visual impressionante do filme estaria no game e que as localidades seriam recriadas com perfeição. Não foi isso que ocorreu. Além de nada variados e repetitivos, o visual saiu chapado e sem a aplicação de muitas texturas. Sempre dá pra notar uma quebra de polígonos aqui, um serrilhado exagerado ali e uma animação tosca acolá. Não que o visual seja de todo ruim. Alguns locais são grandiosos e impressionam, bem como a animação dos personagens principais, mas nada muito impressionante.

A jogabilidade é o ponto que mais merece críticas. A promessa de um gameplay que desse a mesma sensação do filme nem de perto foi alcançada e principalmente por três defeitos: desbalanceamento, repetitividade e bugs, muitos bugs.

Ela parece ser feita para privilegiar o Focus, o modo câmera lenta que vemos nos filmes. Quando você utiliza a habilidade, o jogo irá desacelerar sua velocidade e seu personagem poderá desferir golpes exclusivos. Enquanto você o utiliza, você poderá correr pelas paredes, dar chutes acrobáticos, contra-ataques, saltos giratórios, tiros certeiros, e é claro, desviar de balas. Além disso, a força de seus golpes aumenta, podendo mandar com um golpe o inimigo do outro lado da parede. Mas infelizmente isso nem sempre é divertido já que os controles não contribuem: são duros e respondem com certa dificuldade.

As fases são muito desbalanceadas, com fases iniciais muito difíceis e fases finais fáceis. No geral, as missões do jogo se esforçam para ser interessantes e variadas, mas o resultado parece extremamente genérico: a maioria das missões solta você em um ambiente e o deixa perambulando com o auxilio de uma bússola e matando tudo que vê pela frente, ou dirigindo carros e atirando para todos os lados. É neste ponto que está o maior problema de EtM: as fases com carros. Elas são muito mal feitas e quebram o ritmo de jogo. Os personagens dirigem mal, a sensação de velocidade é estranha e a ação é praticamente nula.

A única coisa realmente de destaque é o cuidado que a produtora teve com o som. Além de excelentes efeitos sonoros para tiros e golpes as canções são sempre empolgantes e bem feitas. Há melodias conhecidas dos filmes e algumas exclusivas, todas conseguindo prender o jogador e dar aquele empurrão na ação do game, que como já deu pra perceber não é das melhores.

Infelizmente mais um game ruim baseado em filme

Nunca um game baseado em filme tinha sido tão badalado até então. Mas quanto maior o tamanho, maior a queda. Mesmo com quase 5 milhões de unidades vendidas (que pouco sanaram os 30 milhões de dólares gastos na produção), Enter the Matrix poderia ser muito melhor. Talvez mais uns seis ou sete meses de desenvolvimento fossem suficientes para acabar com os bugs irritantes existentes e balancear melhor a dificuldade das fases. É mais um game baseado em filme que não deu certo, e exemplo máximo de que não se pode dar um passo maior que a perna.

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